sexta-feira, 24 de outubro de 2008

"Coisas que não me entram na cabeça!"

Mulher é presa por matar marido virtualmente no Japão
A polícia japonesa prendeu uma professora de piano de 43 anos por acessar conta do marido virtual de forma fraudulenta e "matá-lo". Ela alega que teria ficado brava ao ser divorciada do marido virtual sem aviso em um jogo online. O avatar 'morto' era o alter-ego virtual de um homem de 33 anos que chamou a polícia após descobrir que seu perfil no jogo havia sido apagado.
A suposta "assassina virtual", está sendo acusada de acessar de forma fraudulenta a conta da vítima no jogo online Maplestory - muito famoso nos países do Oriente.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

A Borboleta


Entrou voando janela adentro, atraída pela luz. Lépida. Leve. Ágil. Indecisa... a fumaça do cigarro a fez recuar. Acho que pensou em sair, voltar para o lado de fora em busca de ar mais fresco, mas o instinto não permitiu e ela travou luta ferrenha contra a neblina fedorenta do tabaco. Do meu lado, apenas acompanhava seus movimentos. Sentia culpa, mas o vício e o hábito de levar o cigarro à boca me deixavam indiferente ao pobre inseto. “Quero que ela se f...!” Não. Esse não era o pensamento que me detinha, mas sim, a nicotina. Essa invisível cafetina dos prazeres mundanos. Acalmado pelas doses constantes de seus fabulosos beijos (ao menos um maço por dia), o meu coração estava insensível ao sofrimento da borboleta que se debatia.

Talvez o coração dela parasse e aí seria mais um inseto morto neste mundo de insetos. Cadáver ínfimo da ordem natural das coisas. Imaginei se ela me odiaria, mas daí o problema seria dela que invadiu espaços alheios. Não houve convite formal. Tampouco ela pediu licença. Havia malícia, portanto, de ambas as partes. Ela, fortuita invasora. Eu, culposo assassino. Estávamos num impasse.

Voando, ela tentou regressar à janela e (penso) desistir da empreitada. Eu, puxei mais um trago e baforei no ambiente. Nenhum de nós cedia. Por fim, pousou. As asas quietas de quem espera momento mais propício.

Eu, depus o cigarro, que ainda estava pela metade, no cinzeiro. Eu nem ousaria apagar para acender outro mais tarde. A dose ainda não estava completamente consumida. Era necessário mais beijos da boa e velha Nicotina. Para ela, borboleta, talvez fosse necessário mais oxigênio. Pensei em porquê eu não era também viciado por oxigênio, assim como a maioria dos outros animais. Concluí que o oxigênio é um gás sem graça, enfadonho, não proporciona experiências metafísicas ou psicodélicas. Embora, até aí o cigarro também não. Mas a nicotina... Ah! Essa sim, me levava ao bem-estar. Pílula anti-estrese em forma de bastão. Portanto, “que se f... a borboleta!”

Novamente ela intentou vôo, trilhando novo percurso aéreo rumo à fonte de luz. Desviou da fumaça e deu de cabeça na lâmpada. Estava alegre. Serelepe mariposa a bailar pelo teto. Eu, cínico, mudei de posição. Puxei de outro trago e soprei sobre a borboleta. Ela rodopiou envenenada, até quase tocar o chão. Voltou para os lados da janela e tentou sair, mas o instinto, maldita sina dos seres irracionais, a fez regressar para a luz... que eu apaguei. Também fechei as janelas. E acendi outro cigarro. Instinto adormecido de um selvagem civilizado, passei a baforar sobre a bichinha. Indefesa, sem saída, ela pousou sobre a mesa, deixando-se morrer. Me sentia cruel. Frio. Desumano. E me sentia bem. Por fim, matei a borboleta de asfixia. Vitorioso, abri a janela e com num peteleco, mandei o corpo para fora. De onde nunca deveria ter saído.